domingo, 1 de fevereiro de 2015

Juízos de Facto e Juízos de Valor


Nós, ao contrário dos animais, não vivemos num ambiente estritamente natural, vivemos num mundo humano, um mundo culturalmente transformado pelo homem. A nossa experiência do mundo é uma experiência em grande medida filtrada pelas nossas preferências, tanto pessoais, como colectivas, e pelas nossas repulsas: há coisas de que gostamos, que consideramos boas ou belas, há coisas que consideramos feias ou desprezíveis, como há acções que consideramos nobres, outras que consideramos más ou injustas, há paisagens que consideramos sublimes, há locais que consideramos horríveis, há sítios onde gostaríamos de viver e outros onde não gostamos de estar, enfim, quando olhamos à nossa volta somos, irresistivelmente, levados a tomar uma posição em relação ao que vemos, emitindo juízos de valor sobre as coisas, as situações, as acções e as pessoas com que nos deparamos.
     Quando nos levantamos e abrimos a janela, podemos dizer ‘hoje está um belo dia’, ou quando vemos um edifício e dizemos ‘que prédio feio!’, estamos a emitir juízos de valor, estamos a posicionar-nos subjectivamente face ao mundo. Qualquer outra pessoa pode discordar destes nossos juízos: um dia que para nós é belo, por estar sol ou estar a chover, pode ser feio para qualquer outra pessoa, exactamente pelas mesmas razões que nos levam a considerá-lo belo. Como diz o povo: gostos não se discutem, ou seja, cada pessoa tem o direito de gostar ou não gostar disto ou daquilo, desde que, é claro, que isso não se torne incompatível com o direito de gostar.
    Podemos, então, afirmar que os juízos de valor são, sempre, subjectivos exprimem, não as características efectivamente presentes nas coisas, mas a forma como as coisas afectam a nossa sensibilidade. Por isso, os juízos de valor não podem ser unanimemente aceites, pois cada um reage ao mundo a partir das suas preferências individuais.
Pelo contrário, os juízos de facto diferem dos juízos de valor precisamente por serem objectivos, ou seja, porque exprimem características efectiva e comprovadamente presentes nas coisas. Por isso, os juízos de facto, também designados como juízos de realidade, são unanimemente aceites.
    Assim, as observações científicas assumem a forma de juízos de facto, enquanto que os juízos de valor são considerados não-científicos. ‘A água ferve à temperatura de cem graus’, ou ‘uma molécula de água é composta por dois átomos de hidrogénio e por um átomo de oxigénio’, são dois juízos de facto, enquanto que: ‘a água é um líquido agradável’ e ‘a água deste rio é bela quando faz sol’, são juízos de valor. Os primeiros são objectivos e comprováveis: descrevem propriedades efectivas da água, cuja existência pode ser comprovada. Sendo assim, os juízos de facto podem ser verdadeiros ou falsos, caso estejam ou não de acordo com a realidade. Os segundos, são subjectivos e não podem ser submetidos a qualquer tipo de comprovação. Por esta razão os juízos de valor não podem ser considerados verdadeiros ou falsos, podem ser sinceros ou não, exagerados ou não, podemos ser ou não ser capazes de os compreender.



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