segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Para além do subjetivismo e do objetivismo axiológicos



A realização dos valores

“Os valores podem tornar‑se realidade. Uma obra científica, uma obra de arte, uma acção moral representam realizações de valores. Toda a cultura é isto, e o seu respectivo conceito não tem, nem pode ter, outro sentido. A cultura humana é, na sua íntima essência, uma realização de valores.
Examinemos, porém, agora, mais de perto, este fenómeno da realização dos valores.  A primeira coisa que se nos depara é esta: os valores, que começam por ser algo de ideal, por pertencer a uma esfera de ser ideal e de valer, como vimos, penetram em certo momento na esfera do real. O valor irreal torna‑se real, isto é, assume existência, encarna.  Mas como se passa isto? Evidentemente não no sentido de o valor se tornar real em si mesmo, de passar a ser aquilo que era, de passar a existir independentemente, como uma coisa, ou de assumir uma força de ser substancial. Não consiste num ser em si mesmo, mas num ser que está noutro ser. Assim, por exemplo, um valor estético converte‑se em existencial no quadro do pintor; o valor ético, na acção do homem virtuoso. O quadro do pintor passa então a chamar‑se 'belo', a acção do homem, a chamar‑se 'boa'. Isto é: os valores, portanto, só podem tornar‑se existenciais sob a forma de qualidades, características, modos  de ser. Não possuem um ser independente, mas são de certo modo 'trazidos', sustentados' pelos objectos nos quais se realizam; estes objectos tornam‑se seu 'suporte', as coisas são então 'portadoras' dos valores."
Johannes Hessen

Os valores são regras que orientam a conduta humana, servindo de padrão à deliberações dos indivíduos e dando coerência à sua vida social. Os valores são, em grande medida, colectivos, havendo, no entanto, ocasiões em que indivíduos ou grupos restritos de indivíduos propõem novos valores, que passam a ter a adesão de sociedades inteiras.
Há valores que são partilhados por um grande número de sociedades, não havendo, contudo, provas da existência de valores universais, ou seja, valores aceites por todas as sociedades humanas.        

No entanto, há valores cuja universalização seria desejável, uma vez que isso se traduziria num progresso efectivo da civilização: é o caso dos Direitos Humanos.
Os valores são históricos, surgem, disseminam-se e morrem, acompanhando a vida das sociedades em que nascem, mas enquanto estão em vigor, a sua valia é incondicional, ou seja, os valores, não sendo eternos, valem como se o fossem, fazendo lembrar o conhecido verso de Vinícius de Morais: “que o nosso amor seja eterno enquanto dure”. Os valores valem incondicionalmente enquanto são aceites, só assim podem servir de padrão às nossas preferências.

 Não há valores estritamente individuais, pelo que os valores terão sempre alguma objectividade: a sua valia não varia de indivíduo para indivíduo. Mas a valoração é sempre subjectiva, exprime sempre uma apreciação pessoal da realidade. Dois indivíduos podem estar de acordo sobre o que é o belo, mas podem discordar sobre a beleza de um quadro, por exemplo.

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