segunda-feira, 20 de abril de 2015

O Rapaz de Pijama às Riscas



O Direito e a (Não-)Discriminação

“O Rapaz do Pijama às Riscas”, escrito em 2006 por Joyne Boyne e adaptado ao cinema em 2009 por Mark Herman, narra o dia a dia de Bruno, um menino alemão nascido em Berlim a 15 de Abril de 1934, filho de um oficial das Forças Armadas do III Reich. Bruno, aos nove anos, mora em “Acho‐vil” (local que o Autor nos induz a pensar que seria Auschwitz) e interroga‐se sobre o que fazem as pessoas que estão do outro lado da vedação de arame que vê da janela da sua casa. 
Pergunta à irmã mais velha “porque é que puseram a vedação?” e “porque é que não podemos passar para o outro lado? Que mal é que nós fizemos para não podermos ir para aquele lado brincar?” 
A sua incompreensão perante a divisão entre “os judeus” e “os opostos” (grupo ao qual a irmã lhe explica que a sua família pertence) e ódio que os “opostos” têm aos judeus termina com a sua morte. A contrário do que sucede no Príncipe e o Pobre de Mark Twain , Bruno não troca de identidade com Shmuel, o seu amigo judeu. Bruno veste o pijama de riscas que constitui o uniforme dos judeus no campo de concentração e, seguindo o conselho que lhe fora dado pela avó (“Se usares o traje certo, vais sentir‐te exactamente a pessoa que estás a fingir que és”) finge “ser uma pessoa que vive do outro lado da vedação” e acaba por ser morto, numa câmara de gás, provavelmente em consequência de uma ordem dada pelo seu pai, comandante do campo de concentração.  
Para além da questão fundamental de, como relata André Frossard, o século XX ter sido o século em que os Homens mais e melhor se mataram uns aos outros, este livro toca no cerne do Direito da Igualdade e da Não Discriminação: na questão de os diferentes discursos, sejam eles o científico, o social ou, ainda, o jurídico, serem incapazes de considerar o ser humano sem o inserirem em sucessivos grupos aos quais, com frequência, são associados estatutos discriminatórios em sentido
negativo. Construímos continuamente vedações em torno de grupos de pessoas: porque são mulheres, porque são negras, porque são homossexuais, porque são incultas ou estrangeiras… 
As vedações podem ser mais ou menos rendilhadas, lembrando‐nos os nossos trabalhos tradicionais em ferro forjado: quantas gotas de sangue judeu se tem de ter para se ser juridicamente considerado como Judeu? (...).
Algumas pessoas, conjugando nas suas vidas vários factores negativamente valorados pela sociedade e que, com frequência, se reflectem em soluções jurídicas expressas ou implícitas de desfavor, são colocadas num campo protegido por várias vedações. O acesso a bens e serviços é‐lhes extraordinariamente dificultado. Mas, sobretudo, são ofendidas no essencial daquilo que o Direito deve proteger: a sua dignidade de seres humanos. 
O Direito pode constituir‐se quer como instância discriminatória (na medida em que contribua para a criação de categorias discriminatórias), quer como instância anti‐discriminatória (na medida em que contribua para a eliminação de desigualdades injustas). Quando assume este último papel, desempenha um papel fundamental ao conter soluções anti‐ discriminatórias que permitam mostrar a ausência de sentido que subjaz à construção de vedações.
Ao revelar que tudo depende do olhar de quem decide construir a vedação: podemos querer colocar do outro lado da vedação através de comportamentos sociais, sancionados ou não pela lei, os estrangeiros, os portadores de doença ou de deficiência, os judeus, os ciganos, os pobres … Mas também podemos fazê‐lo em relação aos obesos, aos idosos, aos míopes ou aos calvos! 
No limite, todos seremos discriminados ao longo das nossas vidas e todos sentiremos o frio e a insegurança que Bruno relata quando passa para o outro lado da vedação.  
Só com um Direito anti‐discriminatório de índole personalista, centrado no “olhar do outro” que nos interpela e responsabiliza, no respeito pelo outro por ser uma pessoa diferente de todas as outras e a
quem a sociedade deve criar condições para que possa desenvolver de forma livre e harmoniosa a sua personalidade, conseguiremos aquilo que aquilo que John Boyne propõe, no fim do livro:  
Claro que tudo isto aconteceu há muito tempo e nada de parecido poderá voltar a acontecer. Não nos dias de hoje, não na época em que vivemos.
http://www.fd.unl.pt/anexos/3785.pdf

1. Comente o último parágrafo do texto.

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O Livro da Minha Vida, “O Rapaz do Pijama às Riscas”

O Rapaz do Pijama às Riscas é um livro (adaptado a filme) que fala sobre o Holocausto e foi escrito por John Boyne.
Bruno nada sabe sobre as terríveis crueldades que o seu pais executa a vários milhões de pessoas. Bruno tem 9 anos e vive numa grande casa em Berlim, com a sua mãe, pai e irmã (Gretel) durante a Segunda Guerra Mundial. Ele sabia que o seu pai tinha um importante emprego para o país e que um homem conhecido por “Fúria” tinha grandes planos para ele, mas não sabia ao certo o que o seu pai fazia.
Um dia, foram visitados por “Fúria”, um individuo baixo, de cabelo escuro, cortado muito curto e com um bigode minúsculo. Depois desse jantar, que parecia ser muito importante, o pai de Bruno recebeu um novo uniforme e foi nomeado Comandante. A família de Bruno teve então que se mudar para Auschwitz devido à nova posição do pai no seu emprego, para descontentamento de Bruno.
Ele sentia-se triste com a sua nova casa: não tinha a companhia dos seus 3 melhores amigos, Karl, Daniel e Martin, e estava sempre a perguntar à mãe e ao pai quando é que iam voltar para Berlim, mas levava sempre um “nos tempos mais próximos” como resposta, ficando sem saber quanto tempo era “nos tempos mais próximos”. A casa de Berlim ficava numa rua sossegada, com casas à volta cheias de miúdos com quem ele costumava brincar, enquanto que a casa de Auschwitz estava num lugar vazio e isolado e não havia ninguém com quem brincar. Bruno tinha uma janela no quarto da nova casa, e para além da floresta e de um jardim, extremamente cuidado, havia também uma vedação ao longe que se estendia pelo horizonte onde via pessoas, idosos, adultos e crianças, que despertavam o seu interesse. Foi perguntar ao seu pai quem eram aquelas pessoas, mas o pai respondeu-lhe com uma resposta surpreendente: “Aquelas pessoas não são pessoas.”
Bruno estava proibido de explorar a casa nova e arredores, mas o mistério daquela vedação despertava-lhe tanto interesse  que decidiu investigar as pessoas e a vida para lá dela.
Quando já estava no fim da exploração de um dos dias, Bruno viu ao longe um ponto, que se transformou numa pinta que se transformou numa mancha que se transformou num vulto que se transformou num rapaz. Esse rapaz encontrava-se no outro lado da vedação e chamava-se Shmuel – tinha 9 anos e tinha nascido no mesmo dia que Bruno, o que sendo uma grande coincidência adivinhava uma grande amizade. E, desde esse dia, os dois rapazes passaram a encontrar-se no mesmo sítio onde se conheceram, todos os dias durante 1 ano, contando a historia dia-a-dia em cada lado da vedação, isto é, relatando cada um a sua vida.
Bruno queixou-se de ter mudado de uma casa cheia de vida e com 5 andares, para uma com 3 andares onde se sentia sozinho e sem nada para fazer, enquanto Shmuel narra que mudou de uma vida completamente pacata, vivendo numa casa humilde com a sua família, para uma vida atribulada e com pouca privacidade, chegando a viver durante 1 ano com 11 pessoas num só quarto. Bruno começou a aperceber-se que a vida dele comparada com a de Shmuel era um paraíso, mas Shmuel tinha crianças da idade deles dentro da vedação por isso poderiam brincar umas com as outras, o que levou Bruno a achar que Shmuel estivesse a exagerar  o relato da sua vida.
Muitas mais controvérsias se sucederam até que Bruno recebeu a informação que ele, a sua mãe e a sua irmã iriam voltar para a sua antiga casa em Berlim por ordem de seu pai. Por um lado, ficou contente pois ia estar outra vez com os seus três  melhores amigos para a vida, mas,  por outro, ficou triste pois os seus três amigos poderiam já nem o reconhecer e também porque assim nunca mais iria voltar a ver Shmuel. Porém, como a ordem tinha sido dada pelo seu pai quer ele gostasse quer não teria de a respeitar. Perante este facto, Bruno e Shmuel planearam a sua ultima aventura: Bruno veste um pijama às riscas e passa por baixo da vedação ajudando a procurar o pai de Shmuel que tinha desaparecido há 3 dias do campo. Isto já era uma tarefa complicada, pois toda a gente vestia um pijama às riscas, era magra, careca (aproveito para dizer que Bruno e Shmuel estavam muito semelhantes pois Bruno tinha rapado o cabelo por ter apanhado piolhos) e com nenhuma vontade de viver e ainda se complicou mais pois o céu começou a escurecer e começou a chover torrencialmente.
Após algum tempo, Bruno diz a Shmuel que lamentava mas que não o conseguia ajudar a procurar o seu pai e que era melhor ir para casa, até que se viram envolvidos numa marcha comandada por guardas nazis formando-se um aglomerado de centenas de pessoas. Essa marcha levaria Bruno, Shmuele essas centenas de pessoas a uma câmara de gás, que Bruno pensava ser para abrigar as pessoas da chuva.
Ao fim de algum tempo de lá estarem dentro, Bruno diz a Shmuel que quando o fosse visitar a Berlim lhe apresentaria os seus 3 melhores amigos para a vida, mas já nem se lembrava dos nomes deles nem das suas caras, corrigindo-se dizendo que Shmuel era o melhor amigo dele para a vida. Bruno aperta as mãos a Shmuel, convencido que nunca as ia largar acontecesse o que acontecesse. Subitamente, as luzes apagam-se e nunca nada mais se soube acerca do dois amigos.
A família de Bruno passou alguns meses à sua procura e, passado um ano, quando o seu pai foi ao lugar onde os guardas nazis viram a roupa de Bruno (fora da vedação) descobriu que a vedação não estava suficientemente presa ao chão como devia e que dava perfeitamente para uma criança do tamanho de Bruno passar. Após alguns segundos, o pai de Bruno apercebeu-se que matara o seu próprio filho e que nada mais poderia fazer para voltar atrás.
Escolhi ler este livro porque consegue abordar a época Nazi de uma forma simples, não deixando, no entanto, de ser cruel e realista. Foca a inocência de duas crianças, que apesar de pertencerem a culturas diferentes, conseguem viver uma amizade inocente num mundo ignorante. Recomendo-o pois ele consegue transmitir que somos todos seres humanos e que devemos ser respeitados independentemente dos nossos ideias, costumes e cultura, porque se não o fizermos podemos magoar quem realmente amamos.

Gonçalo Mordido,  10º B (Escola Secundária Daniel Sampaio)
Texto recolhido no dia 15/04/2015

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